Aquela noite era estranha, o bar estava cheio e Kathlyn não parava de gritar para eu desencostar daquele balcão e ir atender algum cliente. Toda noite era aquela mesma falação e, geralmente, eu iria mesmo, mas já fazia alguns dias que eu me sentia mal, apesar da neblina gelada do lado de fora o bar era abafado, as grandes baforadas de cigarro e a lareira ao canto deixavam o ar sufocante, o cheiro da bebida e do suor dos homens me dava náuseas, eu não estava bem.
Eu tinha quinze anos, minha família muito pobre me arrumou um emprego em um cabaré da cidade, mas os homens adoravam o corpo de uma mulher jovem e eu era a atração principal no bar. Me deram o nome de Rebecca e o sobrenome de Austin, afinal, prostituta também tem que ter sobrenome, meu nome e sobrenome verdadeiro já saíram da minha mente há alguns anos, tantos nomes...
Ah, Inglaterra! Adoráveis nobres, odiáveis pobres...
Certa vez veio um homem bonito, porte elegante, boas roupas, disse à Kathlyn que queria a mais bonita e mais limpa garota e lá estava eu. Ele me levou para uma estalagem perguntou o porquê de eu estar naquela vida se passando de educado e ético, mas se ele fosse tão ético teria ao menos tirado a aliança. Ele voltou até o cabaré mais algumas vezes e na última vez que o vi ele disse que iria com as tropas para a França, ajudar nos combates da revolução. Ele havia me prometido um belo mundo, cheio de gente e roupas boas, queria me levar com ele para Paris, dizia que me amava e eu, tola, amava ele também. E, depois... sumiu.
Passaram-se dias e eu cada vez mais triste até que comecei a me sentir mal, os homens reclamavam, Kathlyn me batia e eu ficava no meu canto, fumando meu cigarro e bebericando minha água suja.
Passaram-se mais alguns dias e numa noite agitada passei mal, Kathlyn gastou tudo o que eu havia conseguido chamando um doutor e disse que eu pagaria dobrado, diagnóstico: Gravidez! Era o fim, eu fui colocada para fora do cabaré minha única roupa era a do corpo já bem suja. Vaguei os meses da gravidez todos pela rua, comendo restos, fingindo ser qualquer um por alguns trocados, aprendendo a manha das ruas. Quando as dores do parto começaram, eu achava que iria morrer só não sabia que não seria do jeito que eu esperava. Um homem rico ouviu meus gritos, se aproximou e levou a boca ao meu ouvido para dizer alguma coisa, então a dor parou, aquilo era bom. Ele me deu alguma coisa para beber em seguida, também era bom, mas eu já não sentia nada, apenas frio. Acho que o que ele tinha nas mãos era meu filho, disse mais alguma coisa, só entendi “...ino”. E depois tudo se apagou.
Acordei na noite seguinte, corpos de rato, cães e de gente ao redor pareciam estraçalhados por lobos famintos, em seguida vi o sangue em mim, eu havia feito aquilo e ver aquela cena me dava fome. Saí pelas ruas de Londres vagando ainda extasiada não sabia do quê. Achei um homem caído de bêbado nos fundos de uma taverna e ataquei-o sem consciência, eu bebia o sangue dele como se fosse um jorro de água fresca no deserto escaldante. Uma mulher me interrompeu e me levou com ela, se chamava Catheryne e me tutelou por dez anos, me ensinou como era ser um vampiro e me deu roupas limpas, um abrigo do sol e dos caçadores de bruxas, mas após esses dez anos ela também sumiu.
Muitos anos se passaram e eu aprendi mais por minha conta, matar não era muito problema mas eu adorava enganar, cada noite eu tinha um nome e uma personalidade e ver os mortais sendo seduzidos por elas era fascinante.
O homem rico eu nunca mais vi, nem o meu filho, nem Catheryne, eu era uma nômade, dormia em buracos escuros e me alimentava de pessoas das ruas, por vezes de prostitutas e muitas outras de bêbados. Adorava entrar em uma taverna apenas para saciar meu vício pelo fumo e adorava o conforto das roupas velhas, aquela cauda conseguia ser irritante quando queria. Era de um gato amarelado, uma vira-lata legítima, roubava para comprar fumo, mas adorava roubar. Aprendi todas as artes da ladinagem e isso me mantinha viva, eu poderia dormir em uma casa sem ser notada e quase sempre eu fazia isso.
Muitos vampiros me ajudaram e outros mais me caçaram, eu sempre queria saber o que não sabia e era indiscreta como um cão de rua: ele abana o rabo para você, você o enxota e daqui a pouco ele volta abanando o rabo de novo. Eu perguntava as famílias, a maioria logo perguntava “Sabá ou Camarilla?” como se a informação fosse salvá-los de uma das duas seitas. Alguns fugiam, outros me expulsavam e alguns respondiam sem medo de retaliações.
Nos idos de 1900, auge da Primeira Guerra Mundial fui encontrada por um mago Adrian Smith, ele foi “seduzido” pela jovem Elizabeth e vinha me seguindo há dias, até que em um deles ele me abordou, disse ser um investigador da divisão secreta de inteligência do exército Inglês, disse que achou em mim o que a divisão precisava, membro de disfarce, me levou para conhecer o departamento dele, disse que ali só haviam pessoas como eu, vampiros, magos, garous e fadas, todos trabalhavam infiltrados ou em serviços de investigação e inteligência que nenhum mortal conseguiria fazer. Ele disse que eu me tornaria uma militar, recebendo do governo grandes quantias para fazer o serviço que ninguém mais consegue.
Adrian me ensinou a ler e escrever, me ensinou alemão e, principalmente, me ensinou a diferenciar as criaturas da divisão, me arrumou um lugar para morar, era o porão da divisão, mas ele disse que seria provisório até que eu recebesse para conseguir uma casa.
Então, eu ganhei meu primeiro “caso”.
Descobriu-se que uma facção estava se formando na Alemanha, se denominavam socialistas e diziam que iriam salvar a Alemanha dos escombros da Primeira Grande Guerra, criariam uma raça superior e eu, estava entre eles.
Foi-me permitido pela divisão “eleger” um ajudante, fiz uma carniçal que me cobriria durante o dia, eu era espiã de noite e ela meus olhos de dia.
Quando o nazismo se tornou potência na Alemanha eu era secretária de um membro influente na SS e até hoje ajudo minha divisão nas tramas contra Hitler e seus comparsas.
Viemos em um grupo de cinco, cada um em uma área do grande império do Führer e, talvez, eu seja a que esteja mais perto, intercepto correspondências, arrombo cofres e portas trancadas, atendo ligações suspeitas e meus recados são sempre meio distorcidos e a Rainha fica satisfeita comigo e eu com ela, afinal, esse trabalho vale cada cent do meu salário.
Ah! Muito prazer, sou Erza Katze.
Uau, impressionante como uma pessoa consegue escrever um testamento.
ResponderExcluirMalz o tamanho gente^^
Que isso moxinha, o seu ficou mais ou menos do tamanho do meu, precisa pedir desculpas não. Ficou mto foda! Achei o modo como ela veio sobrevivendo e depois como entrou pra divisão, bem interessantes. Mto show moxica!
ResponderExcluirSou um narrador feliz, meus jogadores escrevem testamentos e me enchem de ganchos \o/ Tem gente que precisa ser ameaçado para escrever algumas linhas (NÉ LAHAR?) uahaahahahaahahahhau
ResponderExcluirUma das Gangrel mais fodas que ja vi, especial e gangrel na veia, nada mais deles do que criar modos de sobrevivencia. Muito bom maninha!